2.8.07

Deja vú


Eu não tenho lá muita sorte com empregadas. Sempre passo um baita nervoso com elas. Eu, que já não tenho muita paciência, sempre dou o azar de pegar as mais folgadas e comilonas.

A primeira, Dona Olinda, um catatau rechonchudo de pés bizarros, não me dava muito problema em relação a isso, mas na única vez, quase me mata de raiva. Na segunda-feira depois da Páscoa daquele ano, cheguei do trabalho e resolvi abrir o ovo que meus pais tinham me dado. Para minha surpresa, ele já estava aberto e quase no fim. Perguntei pro marido, que também é chegado numa besteira, e ele negou. Fiquei pasma! Em cerca de 6 horas (tempo que ela ficava na minha casa diariamente), ela lavou, aspirou, espanou e comeu 80% do meu ovo de Páscoa alpino (meu predileto) de 750 gramas.

No dia seguinte, quando perguntei, ela começou a chorar. Sim, que legal! Começou a chorar. Uma senhora de quase 60, na época. Fiquei puta, pois percebi que ela fez isso pra eu ficar com dó, já que assim que falei "tudo bem, deixa pra lá", as lágrimas sumiram imediatamente e ela já foi pra cozinha assobiando a mesma música de todo dia.

A próxima, Eliene, limpava muito bem. Bem mesmo. Todo dia eu encontrava a casa cheirosa e brilhante, e ela no quintal, deitada ao sol, com os cabelos cheios de creme, lendo a Caras que eu sempre recebia de graça. Isso mesmo. E não se fazia de rogada não! Já fez isso logo no primeiro dia. Como se isso não bastasse, comecei a perceber que a despensa e o freezer andavam esvaziando muito rápido. Passei a observar.

Ela chegava em casa por volta das 08 da manhã e já abria a geladeira. Tomava umas duas canecas de café com leite, comia todos (inclusive os que porventura eu tivesse comprado para mim) os pães que tivesse e, se fossem poucos, 2 ou 3, ela “arrematava’ com um belo miojo ou um bom prato de arroz, feijão e farofa ou macarrão, dependendo do que eu tivesse feito no jantar da noite anterior. E essa comida, que ela às vezes comia todinha (e não era pouca), era para eu e ela almoçarmos, já que eu trabalhava bem pertinho de casa. Quantas vezes não tive que eu comer um miojo porque o almoço tinha desaparecido...

E seu eu não tivesse feito jantar, ela escolhia qualquer coisa bem gostosa do freezer e preparava. Aquela bela picanha do churrasco do domingo, o peixe que eu pretendia preparar pro sogro no sábado, enfim, o que ela estivesse com vontade. Escolhia o menu e preparava. Claro, eu não gostei e fui falar. Sabe o que eu ouvia? - Ah, eu num posso ficá comeno sanduíche e miojo sempre que você não faiz janta.

Gente, eu não regulo comida. Alguns talvez pensem que ela era uma coitada, que talvez não tivesse comida em casa, que eu não tenho coração, etc e tal. Mas além de eu saber que não era essa a realidade, nada justifica ela comer tudo o que tem na minha casa e não deixar comida pra gente. Eliene realmente exagerava. Comia nossos iogurtes, chocolates, o último pedaço de bolo, qualquer coisa, como se não houvesse amanhã! Me tirava do sério diariamente.

Agora, tenho uma nova, a Elaine. Boazinha, coitada. Está comigo há 45 dias. Quando percebi que ela não comia nada, perguntei e ela respondeu que fazia dieta e preferia comer em casa, onde toma café da manhã e prepara salada e hamburgui (sic) frito (!!) quando chega. Tudo bem, pensei eu, ela chega às 09:00 e vai embora às 14:00, dá pra aguentar. Azar dela se não quer comer.

Só que, de repente, de uns 10 dias pra cá, acho que ela largou a dieta à base de saladas e frituras e passou para uma a base de chocolate e refrigerante. Do nada, passou a tomar quase um litro de leite com Toddy, comer bolachas de chocolate, cookies e abrir os refrigerantes da geladeira, tomando cerca de um litro por dia (de 5 horas) e, ainda por cima, deixando mal fechado, para não ter um milímetro de gás na hora que quisermos. Até aí, nada tããão grave assim. Relevei e só pedi para ela fechar direito o refrigerante e pronto. Só que quando foi hoje, na hora do almoço, fui seca atrás do macarrão com almôndegas que eu tinha preparado e que estava delicioso. Tinha sobrado bastante, não comemos muito no jantar de ontem. Cheguei lá e, surpresa! Tinha um pote na geladeira com uns 10 fios de espaguete e outro pote com um pouco de molho...sem nenhuma almôndega.

Eu já sei o fim dessa história.