26.9.08

Uma declaração de amor diferente.



Quem é meu amigo sabe que eu tenho síndrome do pânico e que sofro muito por isso. Quem é meu amigo ou parente tb sabe que tenho um marido sem igual, um grande orgulho pra mim. Ele me ama e me prova isso todos os dias, como hoje, ao enviar o seguinte e-mail para a maior parte dos nossos parentes e amigos e tb para mim, claro:

"Todos nós temos um desafio na vida, um Golias a vencer, um dragão a derrotar. E quando conseguimos alcançar nosso objetivo, sentimos dentro de nós uma imensa satisfação, a alegria da vitória, da conquista.

Essa alegria vem quando conseguimos defender nossa tese de doutorado, quando salvamos um animal de morrer de fome na rua, quando ganhamos o tão merecido aumento de salário, quando conquistamos a liberdade de poder trabalhar de bermuda e chinelo, quando podemos fazer aquela tão aguardada pescaria com os amigos, quando conseguimos depois de tanta luta comprar o carro dos nossos sonhos, quando o filho tão querido e desejado nasce com saúde, quando vemos o sorriso nos rostos dos netos sujos de chocolate, quando tomamos aquela merecida cerveja gelada após um dia difícil de trabalho.

Infelizmente, por conta de problemas de saúde, a Renata uma vez passou muito mal enquanto atravessava o viaduto Aricanduva e por isso não tinha coragem de atravessar a ponte estaiada que atravessa o rio Pinheiros, pois a altura e a extensão dessa ponte fazia que ela se sentisse mal só de pensar em chegar perto.

Depois da inauguração da ponte, sempre que passávamos pela marginal eu pensava que gostaria de atravessá-la para ver como é que é, coisa boba, só para olhar a marginal de lá de cima e ver os prédios que se amontoam pela Berrini. As vezes comentava isso com a Renata, mas sabia que para ela aquilo era um grande desafio. Eu ficava chateado por ela, principalmente quando ela dizia "combina com o Claudinho e/ou com o Otinho e daí vocês atravessam a ponte...", e sempre dizia que não, que eu só iria atravessar a ponte se fosse com ela.

Pois é, ontem à noite eu experimentei essa alegria que mencionei...

Estávamos voltando da casa do Otinho à noite pela marginal e, sem falar nada, apenas dando uma risadinha marota, a Renata pegou a entrada da ponte e começou a subir para atravessar para o outro lado. Nos primeiros 5 segundos eu não entendi bem o que estava acontecendo e pensei "por que estamos fazendo esse caminho? é tão mais longe por aqui...", mas depois me dei conta que a Renata estava enfrentando seu medo, sua doença, seu Golias, seu dragão.

Começamos a subir e eu abri a janela do carro para olhar lá para baixo. A cada metro que andávamos minha emoção ficava maior e a Renata disse que eu fiquei com cara de criança que anda na roda gigante pela primeira vez. Quando chegamos na parte mais alta, vimos que as luzes da ponte iluminavam tudo com um tom verde muito bonito e relaxante, contrastando com o piscar frenético das torres sinalizadores em cima dos edifícios da marginal e da Berrini. Posso afirmar com toda a certeza do mundo que a marginal do rio Pinheiros nunca esteve tão linda!

Para alguns pode parecer tudo uma grande bobagem. Imagina, ter medo de atravessar uma ponte, que coisa idiota, não? Mas para nós (Sr. Oton, D. Eurides, Otinho, Adri, Dani e eu), que sabemos o quanto isso foi importante para ela (e para nós também, afinal nada mais importante para mim e para eles que a saúde e o bem-estar dela), esse ato "banal" tem um significado muito especial. É como na música Lado B Lado A do Rappa, que fala:

A vitória de um homem às vezes se esconde num gesto forte que só ele pode ver.

Então, por conta dessa vitória, eu escrevi esse e-mail para dar os parabéns a Renata, que num gesto de muita coragem e autoconfiança enfrentou seu medo e venceu, levando como troféu a alegria de que tanto falamos.

Amor, você merece o lugar mais alto no pódio da vida e uma medalha de platina, que é mais rara e valiosa que o ouro. Mas o maior prêmio disso tudo é você poder dizer:

Eu posso!

Amo-te muito! Você é tudo para mim! Obrigado por esse presente.

ps: hoje de madrugada vamos de novo!!! rs"



Preciso dizer que chorei? Não, né? Amo muito esse homem que me faz tão feliz e cada dia mais vitoriosa.

28.7.08

Vai ficar tudo bem



O que será essa coisa que nós, brasileiros, temos de ter esperança sempre?
Será pelos tempos não muito longínquos, quando éramos um país bem mais pobrezinho e insignificante e todos tínhamos que matar 118 leões por dia ao invés de 2 ou 3 como agora?

Eu estou perguntando isso porque muitas vezes me pego - com o perdão da palavra - atolada na merda até a voltinha do lábio inferior e ainda consigo pensar que tudo ficará bem. "Vai passar". "É só uma fase", costumo afirmar para mim mesma.

Será fé? Eu me considero uma pessoa com fé, acredito nisso, mas também acredito que nem sempre a fé faz milagres. Creio que é preciso todo uma conjuntura astral, o momento certo, o merecimento, até mesmo sorte, etc, etc, etc, MAIS a fé, para que algo aconteça de acordo com nossa vontade. Fé purinha, sem outras combinações, só em casos extremos e para aqueles abençoados que têm o telefone direto da mesa de Jesus Cristo.

Será que é a necessidade de continuar em frente? Falta do que dizer? Medo de admitir o pressentimento? Receio de parecer negativo (claro!)? Será porque ouvimos desde pequenos que temos que acreditar? Ou será que é porque somos uns iludidos mesmo, ou até mesmo uns folgados, que se acham especiais? Porque MUITAS vezes NÃO dá certo, NÃO é só uma fase, NÃO melhora, NÃO muda, NÃO acontece; mas mesmo assim a gente continua repetindo tudo aquilo feito disco riscado, no automático?

Eu queria mesmo entender que esperança insana é essa que mesmo quando temos um monte de doenças, estamos desempregados, perdemos coisas e pessoas, adiamos planos que não queríamos adiar, matamos sonhos, e tudo parece estar impossível de resolver, AINDA ASSIM acreditamos piamente que vai ficar tudo bem.

7.7.08

Crise existencial?


Não sei se acredito nisso, mas que estou passando um momento no mínimo questionador, estou.
Tenho achado tudo bem errado na minha vida e, todo dia, tenho mudado alguma coisa. Creio que para melhor.

Tenho questionado minha carreira e tentado melhorá-la;

Tenho pensado muuuuito em calorias, dietas e exercícios e comecei a me mexer. Estou andando (não curto academia) diariamente (até de fim de semana), pegando leve nas refeições e, principalmente, nas besteiras e na Coca-Cola, que é um vício que eu amo;

Estou programada a parar de fumar. A partir do dia 15/07 estarei em tratamento para isso;

Não estou mais deixando para amanhã o que posso fazer hoje;

Tenho acreditado mais em minhas intuições, para deixar de acreditar nas pessoas erradas;

Tenho desconfiado um pouquinho mais de gente, e estou amando cada vez mais os animais...rs;

Mudei bastante meu conceito a respeito da palavra amizade. Agora, amigo não pode me ferrar. Se fizer, não é meu amigo e vai rodar. Perdão é lindo, mas meus sentimentos são mais. Ou: perdoar é uma coisa, esquecer é outra;

Tenho pensando muito mais no futuro. Muito mais mesmo. A ponto de modificar meu presente, minhas atitudes, minha maneira de pensar e agir. Claro que tb estou falando de grana : )

Tenho retirado coisas velhas e inúteis da minha casa. Doado muita coisa. Está me fazendo um bem fora do comum! Semana passada, retirei 4 sacos de 60 litros de roupas que eu e o Lú não usamos mais, e um outro saco só de sapatos. Energia boa em casa é fundamental;

Tenho sido cada vez mais sincera com todo mundo. Sempre de uma forma saudável, na medida do possível;

Tenho namorado mais meu marido;

Tenho procurado ser mais calma, paciente e tolerante;

Tenho cuidado mais da minha saúde física, mental e espiritual.

E, principalmente, tenho voltado a acreditar em mim mesma e no meu potencial. Passei um período bravo de insegurança há alguns meses, que me fizeram ter vontade de largar tudo em que acredito. Mas passou. Que bom!

29.2.08

Tempo


Legal demais essa coisa de auto-conhecimento, né?

Quando de repente nos damos conta de que mudamos, pra melhor, vem uma sensação de dar um passo à frente no caminho da evolução.Pena que muitas vezes tenhamos que sofrer para conseguir isso. É o famoso “quem não vai pelo amor, vai pela dor”. Ô ditado certeiro, meu Deus.

Às vezes, passamos longos períodos da nossa vida num determinado tipo de comportamento que sempre nos traz algo de ruim, de sofrível, de chato ou de irritante. E, mesmo assim, não mudamos. É porque simplesmente não percebemos mesmo. Quantos anos não passamos cegos, nos torturando por algo que muito provavelmente poderíamos mudar com uma simples e bela olhada pra dentro de si?

Eu, por exemplo, levei 30 anos para aprender a dizer não. Trinta. E a custo de MUITO sofrimento, terapia, brigas, constatações, sustos e pontos-finais.

Antes, sofria mas sempre dizia sim, porque sempre queria agradar, sempre queria ver as pessoas felizes, mesmo que para isso eu mesma ficasse bem infeliz. Me sentia sufocada, mas não mudava e nem percebia o quanto me fazia mal. Admito, não foi fácil mudar. E no meu caso, eu mudei pela dor. Me afastei de “amigos”, porque só eu era amiga. Impus novas condições, porque antigas me faziam sofrer. Repensei conceitos, porque até então só afirmava X ou Y por pura mecânica.

Foi fácil? Nem um pouco. Aliás, não está sendo, porque essa mudança ainda não está terminada. Ainda quero aprender muitas coisas relacionadas ao meu eu, à minha espiritualidade. Mas, por enquanto, a única coisa que posso afirmar é que o tempo é o senhor da razão. No momento certo dá um “clic” e simplesmente fazemos o que temos que fazer, mesmo que tenhamos empurrado com a barriga por trinta, cinquenta ou oitenta anos.


Oração ao Tempo

(Caetano Veloso)


És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...


P.S: Foto