23.1.06

1º Beijo

Quando era pequena, íamos muito ao Rio de Janeiro, visitar uns amigos dos meus pais.
Eles eram (são!) um barato. Super engraçados, gozadores, notívagos (eu já gostava da idéia desde pequena), desencanadíssimos. Íamos bastante mesmo, pelo menos 2 vezes por ano, durante muitos anos. Numa destas vezes, conheci o Marcelo, um sobrinho desses amigos. Eu tinha 10, ele 14. Menino moreno, cabelos cacheados, carioca até o último R. Eu era daquelas meninas suuuuper tímidas, bobinhas até, que ficava vermelha até por ter que responder a chamada na aula. O Marcelo não, ele já era esperto, galanteador, bagunceiro e, pasmem!, sedutor. Um dia, os pais dele, super legais, deixaram ele fazer uma festinha no apartamento, sem a presença de nenhum adulto, e fomos convidados - eu, meus irmãos e meus primos. Me lembro que eu já estava afim dele, mas disfarçava super bem, já que morria de medo de alguém, qualquer pessoa, perceber (lembrem-se, eu era uma concha, de tão tímida) meus sentimentos.

Bom, fomos na festinha.

Lá, aquela coisa: Dire Straits (!) tocando, refrigerante (pepsi) rolando, a moçada se soltando, e eu só de "butuca" no Marcelo. Até que a porta se abre e me entra uma garota linda. Agora, relembrando, a cena me vem à cabeça até em slow motion, de tão impactante que foi. A menina era toda moderninha pra época: sarada, morenaça, abusada (usava um micro shorts amarelo, me lembro bem, com a calcinha enfiada na medula), vaporosa e, claro, namoradinha do Marcelo. Entrou e deu um beijo nele, na boca! Aquilo, em 85, era praticamente ser piranha, o homem é que tomava as atitudes. Eu, lá no meu canto, me lembro de ter ficado tããão desapontada, que até doeu. Mas tudo bem, a festinha passou e os dias também. Chegou a hora de ir embora. Resolveram que todos nos levariam à estação de trem (naquela época existia o famoso e delicioso trem de prata, usávamos sempre nas nossas viagens ao Rio), pois tudo para aqueles cariocas virava festa. ok. Estamos na porta do trem, malas já guardadas, os últimos abraços sendo dados, os adultos todos distraídos em suas piadas. Deveria faltar uns 10 minutos pra embarcarmos quando o Marcelo pega na minha mão, me puxa pra dentro do trem e diz, todo suave: - Me leva pra ver como é o trem por dentro? E eu fui. Eu, a inocente, fui. Lá na cabine, eu, a inocente, parecia uma guia turística: - Essas são as camas, aqui é o banheiro, aqui é o...Eis que ele me agarra e me dá um beijo. Mas um beijo mesmo, absurdo, aquela língua...afe. Quanta emoção! Naquele minuto, achei que iria derreter de vergonha e "prazer" (muitas aspas nesta hora, afinal eu tinha10!). Quando terminou, ele me abraçou e depois saiu em silêncio, me deixando na cabine sozinha, até o pessoal entrar e o trem partir.

Claro que minha vida mudou alí. Eu tinha descoberto o beijo, aquele desconhecido. E tão nova!
Mas também descobri o medo, a aflição, a angústia desenfreada. Sabe por quê? Eu achava que estava grávida! Isso mesmo, achava que com aquele beijo ele tinha me engravidado. Eu não tinha noção das coisas ainda! Minha mãe ainda não tinha me chamado para AQUELA conversa. Passei dias até com dores na barriga, de tão crente naquilo. Até que não aguentei e contei pra minha prima mais velha, que já tinha 20 na época. Depois de rolar e passar mal de tanto rir, ela me explicou tudo. Me senti tão aliviada, tão leve de novo...Eu não era uma perdida, uma criança que carregava um filho na barriga! Eu era apenas inocente, muuuuito inocente, quase retardada...rs.

Sabem do mais engraçado? Poucos dias depois, acho que de tanto nervoso que eu passei, eu fiquei mocinha, tive minha primeira menstruação. Daí então, finalmente, eu e minha mãe tivemos AQUELA conversa, de mãe pra filha, tão constrangedora mas tão útil na vida de uma menina. Foi assim que, no mesmo mês, em 1985, eu tive meu primeiro (e inesquecível) beijo, minha primeira mesntruação, a primeira conversa séria com minha mãe e, claro, minha primeira decepção amorosa, porque não sei se alguém reparou, mas o Marcelo tinha namorada! E eu nunca mais o vi.

4 comentários:

Dani Marques disse...

Caraaacaaaa!!! Como vocÊ NUNCA me contou isso?!?!?! Safada! Eu, entretida com o Márcio e o Dálmata dele, traumatizada pq tinhi perdido meu rai-bãn na privada do trem e a senhorita beijando um homem comprometido!! Façafavor, hein!! E ainda sem camisinhaa!!!! heheheh
Que loucura! Uhuuu

Renata Marques disse...

hahahahaha
ridícula!!!!!
Não lembrava das suas "investidas" (aos 8 anos...rs) no Márcio, irmão do Marcelo. E o lance do rayban então...ho ho ho. Vc abriu o maior berreiro no trem!!! hahahahaha.

Anônimo disse...

Jesus que amiga é essa que eu arrumei!!!! Hahahaha

Anônimo disse...

Jesus que amiga é essa que eu arrumei!!!! Hahahaha